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Nesta época, são tradicionais as previsões para o ano vindouro, feitas por magos, adivinhos, astrólogos e outros quetais, mas nunca vi a checagem da confirmação das previsões. No início deste 2020, nenhuma previsão foi publicada sobre a calamidade mundial da Covid-19. Estou curioso para saber o que os videntes preveem para 2021.
A maioria das previsões é genérica, vaga e admite interpretações variadas, além de se adequar a qualquer situação. Por exemplo, afirmar que irá acontecer uma catástrofe climática de grandes proporções; ou que a situação de conflito no Oriente Médio irá se agravar nem é mais previsão. Até mesmo eu, que não tenho qualquer dom de clarividência posso afirmar isto. No caso da Covid-19, nem isto aconteceu, embora a pandemia já se desenhava desde novembro na China.
O busílis está nas previsões pontuais, referente a um lugar ou pessoa específica. Nestes casos o acerto depende de um acaso lotérico, ou seja, probabilidade próxima de zero. Mesmo assim, é impressionante que adivinhos, ano após ano, ganhem espaço nos principais meios de comunicação para anunciarem as boas e más novas do ano entrante. Por que jornais, rádios, emissoras de TV, que consideram fazer jornalismo sério, divulgam o que tem se demonstrado uma farsa? Talvez, para atender à necessidade humana de acreditar em algo que está acima de sua compreensão. Ora, quem não sonha em acertar sozinho a loteria? A imaginação cria uma fantasia que dá esperança, mesmo que baseada em uma evidência improvável.
As previsões de adivinhos, em princípio, não trazem mal a ninguém. Servem apenas de alimento à fantasia que permite voltar à infância, época em que a ficção e realidade se misturam e dão às crianças a capacidade de olhar e entender o mundo com uma doçura que vai se perdendo na adultez.
Há, entretanto, um tipo de charlatão, que traz malefícios às pessoas em particular e à sociedade em geral, é aquele que tem alguma autoridade, como, por exemplo política ou religiosa, que faz promessas, projeções e propostas mirabolantes, sem qualquer fundamento porque inverossímeis e improváveis. A necessidade de acreditar na possibilidade de um "milagre" faz com que o muitos se deixem levar pela ilusão destes enganadores, agindo como o homem sedento no deserto vai em direção à miragem na esperança de que possa ser real.
O Brasil tem tratado a pandemia projetando a ilusão de que se trata de uma gripezinha,de que tudo logo vai passar, de que a vacina é desnecessária, de que basta dizer "xô prá lá" e o vírus sai correndo.
É impressionante como egoístas e ambiciosos ficam cegos diante de absurdos que lhes deem a ilusão de obter vantagem sobre aqueles que vivem nos limites da sobrevivência, verdadeiras vítimas da enganação ou estelionato eleitoral, que, iludidas, caminham em direção ao abismo.
Na luta entre bem e mal, quem morre é o povo. A mudança no calendário não fará diferença. Valorize a vida. Essa só existe se houver vontade de sobreviver, esperança, heroísmo, benevolência e amor. No ano que vem, não vamos nos afastar da esperança, dentro do que é inteligível, deixando de lado as estultices, mesmo que venham de cabeças que deveriam ser racionais.